Não se trata de nenhum método milagroso vendido por telefone ou produto anunciado na televisão nos moldes das propagandas americanas - aquelas do ligue já! - que você conecta ao corpo antes de deitar. É muito mais simples, acessível e gostoso do que isso. O sono está no mesmo patamar de importância da alimentação equilibrada e do nocaute ao sedentarismo, hábitos consagradíssimos para manter o ponteiro da balança estável.
Isso quer dizer que dormir bem não só ajuda a emagrecer mas também garante melhor qualidade de vida. O assunto ganha a cada dia mais destaque entre os especialistas. Pudera: já há estudos que ligam a privação de sono a acidentes no trabalho e à baixa resistência ao stress e infecções, além de ter relação íntima com doenças como depressão, fibromialgia e, agora, com a obesidade. Dois estudos norte-americanos, da Universidade de Chicago e da Universidade de Columbia, apontaram a relação inversa entre um curto período de repouso e o aumento do índice de massa corporal (o tal do IMC).
Uma pesquisa conduzida no Brasil pelo pneumologista Denis Martinez, fundador da Clínica do Sono, em Porto Alegre, confirma o resultado do estudo americano. “Quem dorme cinco horas ou menos por noite corre três vezes mais risco de se tornar, no futuro, obeso”, afirma.
Mais fome, menos saciedade
Sabe o cortisol, aquele hormônio que marca território quando vivemos uma situação de stress? Então, uma de suas tarefas é estocar gordura no corpo. E as pesquisas já comprovaram há algum tempo que o cortisol age muito mais intensamente em pessoas que dormem pouco. Para se manter acordado durante a noite, nosso organismo passa por uma série de alterações. A explicação é simples: o corpo interpreta a vigília como se fosse uma ameaça — é o mesmo mecanismo desencadeado no homem primitivo quando tinha que enfrentar um perigo.
Mas os estudos foram um pouco além e outras duas substâncias entraram no jogo para explicar a conexão entre falta de sono e a balança. A ghrelina, hormônio sintetizado no estômago, é responsável por regular o gasto calórico — se usamos mais energia quando acordadas, ela aumenta e aciona o alarme da fome. Além disso, se dormimos pouco, há uma queda da leptina, um neuromodulador produzido pelas células de gordura, que controla a saciedade.
O resultado você pode imaginar: mais fome e menos saciedade. “A pesquisa realizada pela Universidade de Chicago revelou que os participantes, ao passar apenas quatro horas dormindo, apresentaram níveis de ghrelina 27% mais altos e de leptina 18% mais baixos do que os outros voluntários que tiveram dez horas de sono”, ressalta Denis Martinez.
Seu sono é sagrado
A recomendação geral é descansar de sete a oito horas por noite. Mas dormir menos que isso nem sempre implica um hábito pouco saudável, já que cada pessoa possui um biorritmo diferente. Dormir demais — entre 12 e 13 horas seguidas — também pode apontar algum distúrbio respiratório, como apnéia ou ronco, e, por isso, nem sempre deve ser encarado como atestado de saúde. Ter um sono reparador, em que você adormece sem dificuldade e acorda bem disposta, sem aquela sensação de cansaço, é o termômetro para saber se está na medida certa.
“O problema é a privação voluntária de sono. Na sociedade moderna, dormir fica sempre para depois do programa de TV preferido, da vida noturna agitada, do trabalho extra levado para casa, do acordar mais cedo para evitar o trânsito carregado...”, alerta Geraldo Rizzo, presidente da Sociedade de Neurofisiologia Clínica, de Porto Alegre. “Assim como se alimentar direito e fazer exercício são fatores fundamentais para a saúde, dormir bem deve ser uma prioridade se você se preocupa em viver cada vez melhor”, sugere o especialista. Recado mais do que perfeito para você se entregar aos lençóis.
Valeriana para quem tem insônia
Essa erva já era popularmente conhecida como poderosa arma contra a ansiedade. Recentemente, a valeriana ganhou um estudo científico próprio para saber se ajuda mesmo quem tem problema para dormir. “Queríamos verificar se o princípio ativo da planta, o ácido valerênico, era eficaz para quem sofre de insônia leve e se trazia poucos efeitos colaterais”, explica Dalva Poyares, neurologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que coordenou a pesquisa, e professora pesquisadora do Instituto do Sono, em São Paulo.
O resultado não podia ter sido melhor: dois comprimidos de 50 miligramas tomados de 40 minutos a 1 hora antes de deitar produz um ligeiro efeito sedativo e ansiolítico (sim, a ansiedade é a campeã em deixar as mulheres acordadas durante a noite). Você encontra o medicamento já manipulado nas farmácias, mas, antes, é sempre bom consultar um médico.
Parabéns pelo blog, muito interessante!
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